Elenco do documentário sobre Maria da Liberdade, conhecida como a ‘menina santa de Feijó’, viaja de barco para o Seringal Liberdade, no Alto Rio Envira, para gravações da produção. Barco com elenco de documentário sobre a ‘menina santa de Feijó’ encalha no Rio Envira
Perrengue amazônico. A ex-BBB Gleici Damasceno, equipes de filmagens e a produção do documentário sobre a vida e morte de Maria da Liberdade, conhecida como a ‘menina santa de Feijó’, interior do Acre, passaram por um sufoco no Rio Envira na última quarta-feira (19).
Com o verão amazônico, o nível do rio está muito baixo e dificulta a navegação. Com a formação de bancos de areia, as equipes precisaram puxar os barcos que ficaram encalhados no manancial.
Segundo o Corpo de Bombeiros de Feijó, as águas do Rio Envira marcaram 3,83 metros nesta quinta (20) na zona urbana. O nível é considerado normal para a época do ano, contudo, a previsão é de que as águas baixem mais ainda.
Imagens enviadas pela professora aposentada Maria das Dores Gomes, que faz parte do elenco, mostram um dos barcos encalhado em um elevado de areia no meio do rio e as equipes puxando a embarcação com uma corda. “Vão ter que subir esse barco nessa cachoeira para ver se passam”, relata a professora.
Com o rio seco, barcos encalharam e atrasou a viagem até o Seringal Liberadade
Reprodução
Após a retirada da embarcação, a equipe teve de dormir no barco às margens do manancial. “Vamos dormir aqui porque depois que atravessarem esse barco não tem mais como viajar porque a lua já está do lado de fora. Agora é só esperar puxar esse barco pra gente pernoitar”, conta.
A acreana Gleici Damasceno também mostrou parte do sufoco enfrentado na viagem. A atriz conta que cortou o pé tentando ajudar a puxar um dos barcos. “A galera está lá firme e forte tentando atravessar nossa canoa. É isso aí, a lua está linda”, brinca.
Ex-BBB Gleici Damasceno relata perregue com barco encalhado no interior do Acre
‘Menina Santa de Feijó’
A história da menina que morava no Seringal Liberdade, zona rural de Feijó, há mais de um século e passou a ser considerada santa popular décadas depois ainda é rodeada de mistérios, já que há diversos relatos de que ela morreu de uma forma violenta.
Uns contam que ela foi estuprada e morta. Em outras versões, o próprio irmão é apontado como algoz. No entanto, não há comprovações específicas sobre o que aconteceu.
A equipe iniciou a viagem em direção ao Seringal Liberdade, no Alto Rio Envira, onde fica a capela de Maria da Liberdade, na última segunda (17). O local é onde o corpo foi enterrado e de onde se tira barro para fazer as curas. Em época de inverno, demora cerca de quatro dias para chegar.
O g1 conversou com o historiador Marcus Vinícius Neves, diretor do documentário, e que estuda desde 2017 a devoção popular à santa. Em Feijó desde maio, quando o processo de pré-produção foi iniciado com Rodrigo Campos, que também dirige o longa, ele contou que é ‘impressionante’ a quantidade de devotos na cidade, além da mobilização para que Maria da Liberdade seja canonizada e se torne santa pela Igreja Católica.
Documentário que conta história de Santa Maria da Liberdade é protagonizado pela atriz acreana e campeã do BBB, Gleici Damasceno
Evilásio Cosmiro e Arquivo pessoal
“Apesar de a maior parte do estado não conhecer essa devoção, em Feijó é muita gente [devota], desde grandes comerciantes, fazendeiros, funcionários públicos, moradores da periferia, trabalhadores, ribeirinhos, povos indígenas, todos têm formas distintas de devoção pela santa e as histórias de milagres, de curas, de mulher cega que volta a enxergar, de pessoas desenganadas pelos médicos que são curadas, é uma quantidade alucinante”, disse.
O professor comentou também que no documentário, que deve ser lançado no próximo ano, é usado o dispositivo ficcional para ajudar a contar a história que é rodeada de mistérios, já que há muitas versões acerca da morte dela. Gleici Damasceno, inclusive, retrata a santa no documentário, onde tem a missão de contar as várias maneiras com as quais as mulheres acreanas, as ‘Marias do Acre’, são vilipendiadas e mortas.
“É uma oportunidade de mostrar que essa violência contra mulher, de gênero, é muito arraigado na cultura, na sociedade desde a época dos seringais, onde as mulheres eram usadas como mercadorias em troca de dívida de seringueiro, não era reconhecido na dignidade humana”, frisou.
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