Audiência de instrução nesta quinta-feira (20) ouviu João Rodolfo, duas testemunhas e o promotor Tales Tranin na 1ª Vara Criminal do TJ-AC. Policial negou novamente a acusação e disse que mencionou um promotor de Justiça durante conversa com um amigo. Policial civil João Rodolfo negou novamente que tenha ameaçado o promotor Tales Tranin
Arquivo pessoal
O policial civil João Rodolfo da Cunha Souza, preso por ameaçar o promotor de Justiça Tales Tranin de morte, foi interrogado nesta quinta-feira (20) durante audiência de instrução na 1ª Vara Crimininal do Tribunal de Justiça do Acre (TJ-AC), em Rio Branco. Ele negou a acusação.
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A prisão de João Rodolfo ocorreu no último dia 9 e foi cumprida pela Polícia Civil em conjunto com a 1ª Promotoria de Justiça Criminal, que conduz as investigações com o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público Estadual (MP-AC).
Além dele, foram ouvidas ainda duas testemunhas, uma de acusação, que é um membro do MP-AC, outra de defesa, além do promotor Tales Tranin, como vítima, durante a audiência.
Ao g1, o advogado do policial, Janderson Soares, explicou que o cliente voltou a afirmar que fez apenas menção a um promotor em uma conversa com um amigo. Segundo ele, na conversa, o policial incentivava esse amigo a denunciar uma suposta conduta ilegal que envolvia um promotor.
“Na mensagem objeto da denúncia ele não fala expressamente o nome do doutor Tales. Foi uma troca de mensagem que teve com um amigo. Ele revelou que fez essa troca de mensagem, mas que em nenhum momento fez ameaça contra a vida do promotor, que não havia intenção ou motivação para que tentasse contra a vida do promotor de Justiça”, argumentou.
Promotor Tales Tranin também foi ouvido durante audiência de instrução nesta quinta (20)
Quésia Melo/Rede Amazônica Acre
O advogado destacou que a audiência foi finalizada e a juíza abriu prazo para as alegações finais escritas.
O Gaeco conduz as investigações sobre a ameaça de morte contra o promotor desde que houve o conhecimento das ameaças em abril deste ano. Em nota, publicada no último dia 4, o órgão disse que medidas administrativas foram tomadas para manter a integridade física do promotor. Ainda segundo o MP, o processo está em segredo de justiça.
O governo do Acre também divulgou uma nota afirmando que foi aberto um procedimento investigatório para apurar os fatos, no âmbito da Corregedoria-Geral da Polícia Civil.
Processos
O policial civil responde a outros dois processos administrativos por corrupção passiva e peculato. Em um desses processo, policial e um colega cobraram dinheiro de um homem que buscou a delegacia para registrar boletim de ocorrência.
Segundo o processo de corrupção passiva, um motociclista foi até a Delegacia de Polícia da 1ª Regional, no bairro Sobral, no dia 24 de maio de 2021, para registrar um boletim de ocorrência após ter a motocicleta tomada por uma pessoa. A vítima explicou na delegacia que comprou o veículo do suspeito, mas que ainda não tinha passado o documento para seu nome e que havia uma multa para pagar.
Com isso, o antigo dono tomou a moto até o pagamento da penalidade. Ao expor a situação para João Rodolfo e outro policial, a vítima foi orientada a não registrar o boletim de ocorrência e nem falar com o delegado plantonista.
Os policiais teriam dito que resolveriam a situação por R$ 1,2 mil com entrada de R$ 200 pelo serviço. Sem saber que estava caindo em um golpe, o homem deu duas notas de R$ 100 para cada policial e foi embora.
A vítima relatou no processo que ligou várias vezes para o colega de João Rodolfo para saber se a moto tinha sido encontrada, contudo, as ligações não foram atendidas. Após várias tentativas, o policial atendeu a ligação e combinou de entregar o veículo em determinado local, o que não foi cumprido.
No dia 31 de maio, a vítima resolveu voltar na delegacia e denunciou o caso para um delegado. A corregedoria foi acionada e o caso começou a ser investigado. O homem alegou que só aceitou o acordo porque precisava da moto para trabalhar.
Ao ser ouvido pelo corregedor-adjunto da época, delegado Alberto Dalacosta Filho, João Rodolfo negou a acusação e alegou que chegou a sair da sala quando a vítima registrava o boletim de ocorrência deixando apenas o colega de farda.
Já o outro policial afirmou que ouviu quando o dono da moto ofereceu dinheiro para João Rodolfo. Os dois policiais foram denunciados pelo Ministério Público Estadual em agosto de 2021. Em setembro do mesmo ano, os dois foram intimados pela 4ª Vara Criminal de Rio Branco a prestar esclarecimento dos fatos.
O processo segue em andamento, tendo sido realizada uma audiência no dia 10 de maio e remarcada para agosto.
Policial chegou a ser preso em 2023 após se apropriar de dinheiro de mãe de preso
Reprodução
Peculato
Em abril de 2022, uma dona de casa buscou a Delegacia da 2ª Regional para saber notícias do seu filho que tinha sido preso por não pagar pensão alimentícia. A mãe queria saber se seria entregue comida para o filho e ouviu de um policial, que posteriormente foi identificado como João Rodolfo, que a delegacia não fornecia alimentação para os presos.
Ainda segundo o depoimento da mulher, o policial se ofereceu a comprar comida para o detento. A mãe ainda chegou a perguntar por quanto sairia a janta, mas o policial disse que não sabia o valor. De acordo com o processo, a mulher entregou R$ 30 para João Rodolfo, sendo R$ 20 para um espetinho de churrasco e R$ 10 para o refrigerante.
A mulher diz que ouviu do policial que não era permitido entrar com comida no local, contudo, levaria o alimento pela parte de trás da delegacia.
O rapaz foi solto no dia seguinte e a mãe perguntou se ele tinha se alimentado. O rapaz respondeu que tinha recebido uma marmita entregue pela própria equipe policial, mas que não era churrasco. A mulher relatou que achou estranho e contou que deu dinheiro para um policial comprar o espetinho e o refrigerante.
No dia 11 de abril, a mulher voltou na delegacia para falar com o policial. Ao chegar no local, ela disse que encontrou João Rodolfo conversando com um colega e quando ele a viu fechou a porta rapidamente.
A mulher foi atendida por um delegado e orientada a buscar a corregedoria. Em depoimento, o policial confirmou que recebeu dinheiro de parentes de vários detentos e comprou todos os alimentos solicitados.
João Rodolfo negou que tivesse ficado com o dinheiro e também alegou que não se lembrava do caso específico. Ele foi preso em maio de 2023 e denunciado pelo MP-AC em junho do mesmo ano. Na época, João Rodolfo foi solto para usar tornozeleira eletrônica.
VÍDEOS: g1